Livestock Research for Rural Development 16 (9) 2004

Citation of this paper

Produção de grãos de milheto (Pennisetum glaucum) submetidos a diferentes espaçamentos e doses de nitrogênio e potássio

Saulo Alberto do Carmo Araújo, João Batista Rodrigues de Abreu*, José Bonifácio de Oliveira Xavier de Menezes*, Enoc Araújo Leda**, Afrânio Silva Madeiro**

Parte da Tese de Mestrado defendida pelo 1º autor junto ao PPGZ-UFRRJ
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 23851-970, Seropédica - RJ,
saulo.tecos@bol.com.br
*Departamento Nutrição Animal e Pastagens, Instituto Zootecnia,
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 23851-970, Seropédica - RJ,
jbrabreu@ufrrj.br   ;    jbox@ufrrj.br
** Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Resumo

Um experimento foi realizado para avaliar o efeito de doses de nitrogênio e potássio (0-0, 50-40, 100-80 e 150-120 kg.ha-1) e diferentes espaçamentos entre linhas (0,50; 0,75; 1,0 e 1,2 m) sobre a produção de grãos de milheto pérola, cv. ENA 1. Foi utilizada a mesma densidade de plantio em todos os espaçamentos entre linhas. O delineamento experimental foi de blocos ao acaso com parcelas subdivididas.

Nos espaçamentos foram verificadas produções de 707,5; 616,1; 547,5 e 323,5 kg.ha-1 para 0,50, 0,75, 1,0 e 1,20 m entre linhas respectivamente. Em relação as doses de 0-0, 50-40, 100-80 e 150-120 kg.ha-1 N e K, os rendimentos foram 420, 437, 674 e 662 kg.ha-1. Não foi observada interação entre os tratamentos propostos.

Palavras-chave: adubação, espaçamento e milheto



Grain yield of the pearl millet (Pennisetum glaucum) under different N and K levels and row spacings

Abstract

An experiment was carried out from March to June of 2003, in order to evaluate the effect of Nitrogen and Potassium levels (0-0, 50-40, 100-80 and 150-120 kg.ha-1) and row spacing (0,50; 0,75; 1,0 and 1,2 m) on grain production of pearl millet. The same planting density was used in all the row spacings. The experimental design was a randomized block with split-plots

 For the row spacings, grain yields were recorded of 707; 616; 547 and 323 kg.ha-1 for 0,50, 0,75, 1,0 and 1,2 m between rows, respectively. In relationship to the doses of 0-0, 50-40, 100-80 and 150-120 kg.ha-1 N and K, the productions were 420, 437, 674 and 662 kg.ha-1. Interaction was not observed among the treatments.

Key words: Fertilization, pearl millet, row spacing


Introdução

O milheto (Pennisetum glaucum) é cultivado para produção de grãos nos trópicos semi-áridos da África e no subcontinente indiano. A cultura é plantada em cerca de 10 milhões de hectares na Índia e 14 milhões de hectares na África, onde os grãos são utilizados principalmente para a alimentação humana. O resíduo da cultura é empregado para alimentação animal, construções de cercas, cabanas e para produção de combustível. Embora a produtividade de grãos seja pequena, variando de 0,3 a 0,8 toneladas por hectare, esse fato é minimizado pela capacidade do milheto tolerar condições adversas do meio (Kumar 1999). Enquanto que nos paises em desenvolvimento os esforços no melhoramento genético dessa cultura são voltados para a aumentar a produção de grãos, nos Estados Unidos e Austrália os estudos são feitos para melhorar a produção e qualidade da forragem (Andrews and Kumar 1992).

No Brasil, o milheto tem sido cultivado intensamente no sistema plantio direto, principalmente no cerrado, devido a grande resistência a seca, boa adaptação a fertilidade do solo, grande produção de biomassa, crescimento rápido, não se torna infestante e boa resistência a pragas e doenças. O milheto possui teor e qualidade da proteína bruta semelhante ao sorgo e superior ao milho e seu teor de energia metabolizável é similar aos demais grãos energéticos utilizados na alimentação animal.

Apesar de suas características de bom desempenho em regiões inóspitas, para obtermos produtividades elevadas com o milheto devemos optar por variedades geneticamente melhoradas e utilizarmos fertilização dos solos e tratos culturais adequados, propiciando plantas bem nutridas em condições de produzir mais sementes bem formadas. A exigência nutricional da planta torna-se mais intensa com o início da fase reprodutiva, sendo mais crítica por ocasião da formação das sementes, quando considerável quantidade de nutrientes é translocada para elas. Formas de aplicação de adubos para as diferentes épocas de plantio ainda são discutidas. Porém, é certo que a maior disponibilidade de nutrientes, principalmente o nitrogênio (N), nos estádios mais tardios do ciclo da planta promove um incremento na taxa fotossintética, ocorrendo assim maior assimilação de carbono e, portanto, maior acúmulo de carboidratos que serão transportados para as sementes (Carvalho and Nakagawa 1980). Devido às elevadas produtividades obtidas com a adubação nitrogenada, ocorre também uma maior extração de outros nutrientes, principalmente o K, tornando-se necessário também o acréscimo desse nutriente.

O espaçamento evidencia uma característica interessante do milheto, que é a "elasticidade" ou a capacidade de desenvolver-se conforme o espaço de que dispõe. Diversas são as recomendações sobre o melhor espaçamento para o milheto, no entanto, são raros os trabalhos que avaliam a produção de grãos sob diferentes espaçamentos para uma mesma densidade de semeadura.

O objetivo deste trabalho foi quantificar a produção de grãos do milheto pérola (cv. ENA1) sob diferentes espaçamentos e adubações nitrogenadas e potássicas.


Material e Métodos

O trabalho foi conduzido no campo experimental do Departamento de Nutrição Animal e Pastagens do Instituto de Zootecnia da UFRRJ. O experimento foi estabelecido em um Planossolo apresentando a composição química mostrada na Tabela 1.

Tabela 1: Análise químicas do solo na camada de 0-20 cm de profundidade

 

Nutrientes

Semeadura

Pós-colheita

 

pH em água

6,30

5,87

 

Al+++ , cmolc/dm3

0,00

0,00

 

Ca++ + Mg++ , cmolc/dm3

4,00

4,54

 

Ca++ , cmolc/dm3

0,70

3,15

 

Mg++ ,cmolc/dm3

3,30

1,39

 

P, mg.dm-3

5,00

23,95

 

K+ , mg.dm-3

103,0

135,2

 

Em 25/02/03 foi realizada a calagem usando-se 300 kg.ha-1 de calcário dolomítico (PRNT 80%) com o objetivo de neutralizar a acidez normalmente gerada pela maior aplicação de N. Foi empregado o delineamento experimental de blocos ao acaso, sendo os tratamentos dispostos em um esquema de parcelas subdivididas, com quatro repetições. Os tratamentos estudados foram quatro doses de nutrientes (0-0, 50-40, 100-80 e 150-120 kg.ha-1 de N e K, respectivamente), na forma de uréia e cloreto de potássio, e quatro espaçamentos de plantio (0,50; 0,75; 1,0 e 1,2 m entre linhas). Nas parcelas foram distribuídos aleatoriamente os espaçamentos e nas subparcelas, as doses de N e K. A área total do experimento foi de 500 m2. Cada subparcela experimental foi formada por 3 linhas com 2 m de comprimento, onde as plantas de cada extremidade da linha central e as linhas laterais foram utilizadas como bordadura e as demais plantas foram utilizadas para coleta de dados. A semeadura foi realizada em 06/03/03, juntamente com a adubação fosfatada de 200 kg.ha-1 de superfosfato simples, distribuindo-se 3 sementes por cova de plantio a uma profundidade de 2 a 3 cm, não sendo feito o desbaste das plântulas. As adubações de cobertura, com uréia e cloreto de potássio foram realizadas juntas na 3ª (para 50-40 e 100-80 e 150-120 kg.ha-1 de N e K), 6ª (para 100-80 e 150-120 kg.ha-1 de N e K) e 8ª semanas após plantio (para 150-120 kg.ha-1 de N e K). Todos os espaçamentos tiveram densidade de semeadura de 160.000 plantas.ha-1. Os valores médios mensais das temperaturas médias e precipitação estão contidos na Tabela 2.

Tabela 2. Temperaturas e Precipitações mensais de 2003

Meses

Precipitação, mm

Temperatura, ºC

Máxima

Mínima

Média

Ocorrida

Normal

Ocorrida

Normal

Ocorrida

Normal

Ocorrida

Normal

Jan

320,3

195,1

36,6

32,1

19,5

22,2

26,2

26,3

Fev

18,9

144,9

37,6

32,8

21,5

22,6

28,2

26,7

Mar

246,9

149,7

38,0

31,6

20,0

21,7

25,8

25,8

Abr

55,1

109,2

35,4

29,3

16,7

19,8

25,0

23,8

Mai

70,6

56,4

32,6

27,9

13,5

17,7

21,6

21,9

Jun

0,0

37,9

32,9

26,8

14,5

16,3

22,3

20,7

Jul

10,2

30,7

33,7

26,6

13,5

15,7

21,1

20,3

Ago

81,1

42,1

33,8

27,6

12,1

16,6

20,1

21,2

Set

58,4

62,3

34,7

27,8

13,5

17,7

21,7

21,9

Out

196,7

93,6

33,9

28,2

12,3

18,9

22,6

22,8

Nov

225,9

118,1

35,5

29,4

14,5

20,1

24,5

24,0

Dez

118,4

184,9

38,4

30,8

20,5

21,3

25,9

25,3

Normais - padrão do período de 1965 a 1990 para Seropédica – RJ
Fonte: Estação Ecologia Agrícola da Pesagro Rio (EES)

A avaliação do comprimento de panícula (CP) e da massa verde das panículas (MVP) foram realizadas após a colheita das mesmas. O número de perfilhos por m2 foi avaliado na floração, a partir do número de perfilhos por colmo principal e multiplicando-o pelo número de colmos principais por m2. Não houve proteção das panículas contra ataque de pássaros granívoros. A colheita de grãos foi realizada de 20/05/03 a 30/05/03, à medida que as sementes atingiam a maturidade fisiológica e colocadas sob lona plástica ao sol por 3 dias para redução da umidade. A observação do comprimento e do peso das panículas foi realizada após a colheita das mesmas. As doses de N e K foram desdobradas em seus efeitos linear e quadrático e os espaçamentos tiveram suas médias comparadas pelo teste de Tukey a 5%.


Resultados e Discussão

Houve efeito significativo (P<0,5) para os espaçamentos entre linhas e doses de nitrogênio e potássio sobre a produção de grãos. Não foi observada interação entre as doses de fertilizantes e os espaçamentos de plantio. O efeito da adubação sobre produção de grãos foi melhor explicado por um modelo de equação linear, mostrado na Figura 1. O maior incremento ocorreu entre as doses 50-40 e 100-80 kg.ha-1 de N e K, correspondendo a 54,4%.

Figura 1: Produção de grãos de milheto em função das doses de N e K.

A produção de grãos quantificada (420, 437, 674 e 662 kg.ha-1 nas respectivas doses de N e K 0-0, 50-40, 100-80 e 150-120 kg.ha-1) é considerada inferior quando comparada com as produtividades obtidas por Costa (2003), que verificou uma produção de grãos da cv. ENA 1 de 810 kg.ha-1, na ausência de adubação e com proteção das panículas contra o ataque de pássaros. Os valores obtidos são similares aos observados por Geraldo et al (2002) que obtiveram rendimentos de 450 e 720 kg.ha-1 em cultivo de safrinha para as cultivares Souna III e Guerguera, respectivamente, com o espaçamento de 0,50 m entre linhas e sem o uso de adubação.

A produção de grãos não diferiu estatisticamente entre os espaçamentos de 0,50, 0,75 e 1,0 m entre linhas (P<0,05), porém nos espaçamentos 0,50 e 0,75 m as produções foram estatisticamente superiores (P<0,05) às verificadas no espaçamento de 1,2 m entre linhas (Tabela 3). O melhor rendimento propiciado pela semeadura entre linhas espaçadas de 0,50 a 1,0 também foi obtido por Costa (2003) e Geraldo et al (2002).

Tabela 3: Produção de grãos (PG), massa verde de panícula (MVP), comprimento de panícula (CP), número de perfilhos por planta (NP) em função dos espaçamentos de plantio

Espaçamento, m

PG, kg.ha-1

MVP, g.panícula-1

CP, cm

NP

0,50

707,5 a

31,6 ab

46,3 a

1,9 a

0,75

616,1 a

34,4 a

45,0 a

2,2 a

1,00

547,5 ab

34,7 a

46,3 a

2,3 a

1,20

323,5 b

26,2 b

44,6 a

2,1 a

CV%

49,5

25,8

10,8

36,6

Médias seguidas das mesma letra, na coluna, não diferem entre si, ao nível de 5% pelo teste de Tukey.

As doses de N e K não influenciaram na massa verde de panícula (28,7, 30,6, 35,9 e 31,7 g nas respectivas doses de N e K 0-0, 50-40, 100-80 e 150-120 kg.ha-1), entretanto, ocorreu diferença estatística (P<0,05) entre os espaçamentos, sendo que os espaçamentos de 0,75 e 1,0 m entre linhas mostraram maiores valores para esta característica (Tabela 3), diferindo estatisticamente do espaçamento de 1,2 m.

Não ocorreu diferença estatística e correlação entre a produção de grãos e comprimento de panícula (CP). A média dos resultados obtidos (45,5 cm) foi semelhante à observada por Costa (2003) (49,9 cm) para a cv. ENA 1, na ausência de adubação. Verifica-se então, que a adubação nitrogenada e potássica não influenciou o CP no cultivo de outono (45,9, 44,9, 45,1 e 48,1 cm nas respectivas doses de N e K 0-0, 50-40, 100-80 e 150-120 kg.ha-1). Contudo, Geraldo et al (2000) indicaram como principais componentes para determinação do número de grãos por panícula, o peso de mil grãos e o CP.

Não foram detectadas diferenças entre o número de perfilhos por planta (NP) em relação aos espaçamentos (Tabela 3) e doses de N e K (1,9, 2,3, 2,2 e 2,1 nas respectivas doses de N e K 0-0, 50-40, 100-80 e 150-120 kg.ha-1), bem como não existiu correlação com a PG. A média verificada neste experimento (2,1 perfilhos por planta) foi inferior à observada por Geraldo et al (2000) aos 60 dias pós-plantio na semeadura de fevereiro (5,9 perfilhos por planta).


Conclusões


Referências Bibliográficas

Andrews D J and Kumar K A 1992 Pearl millet for food, feed, and forage. Advances in Agronomy. New York, volume 4, p89-139

Carvalho N M and Nakagawa J 1980 Sementes: Ciência, tecnologia e produção. Fundação Cargill, 326p

Costa A C T 2003 Avaliação da Fenologia, Unidades Térmicas e Produção de Biomassa e de Grãos em Genótipos de Milheto Pérola [Pennisetum glaucum (L.) R. Brown], Semeados em Duas Épocas de Plantio. 61f, Dissertação (Mestrado em Fitotecnia). Instituto de Agronomia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Geraldo J, Oliveira L D, Pereira M B e Pimentel C 2002 Fenologia e produção de massa seca e de grãos em cultivares de milheto-pérola. Pesquisa Agropecuária Brasileira volume 37 number 9, p1263-1268

Geraldo J, Rossielo R O P e Araújo Pimentel C 2000 Diferenças em crescimento e produção de grãos entre quatro cultivares de milheto pérola. Pesquisa Agropecuária Brasileira volume 35 number 7 p1367-1373

Kumar A 1999 O milheto como cultura granífera para ração. In: Workshop Internacional de milheto, Planaltina,Anais: Embrapa Cerrados e Embrapa Milho e Sorgo, p113-131


Received 5 June 2004; Accepted 22 June 2004

Go to top