Livestock Research for Rural Development 18 (6) 2006 | Guidelines to authors | LRRD News | Citation of this paper |
Objetivou-se avaliar o efeito da adição de uréia (0, 0,5, 1,0, 1,5, 2,0 e 2,5%), nos períodos de tratamento (21, 28 e 35 dias) e teor de umidade (11 e 25%) sobre a concentração de fungos no feno de grama-batatais. Não foram observadas diferenças estatísticas (p>0,05) entre as idades (21, 28 e 35 dias) e amostras recém colhidas e amostras secas.
Mas foi observado diferenças significativas (p<0,05) sobre os teores de umidade e as doses aplicadas. A concentração de 2% de uréia foi eficiente nos três períodos estudados (21,28 e 35 dias), pois, promoveu a menor concentração de colônias de fungos. Observou-se menor ocorrência de fungos nas doses de 2 e 2,5% de uréia na amostra seca. Ressalva deve ser feita no sentido que a concentração de 2,5% de uréia, promoveu uma redução em torno de 25% em relação à concentração de 2%, apesar de não ter sido verificado diferença estatística A adição de uréia é eficiente em reduzir a colonização por fungos em feno de grama batatais, independentemente da idade de corte.
Palavras-chave: Amonização, conservação, gramínea
It was aimed to evaluate the effect of urea addition (0, 0,5, 1,0, 1,5, 2,0, 2,5%), in the treatment periods (21, 28 and 35 days) and humidity about the concentration of fungi in the hay of batatais-grass.
It was not observed statistical differences (p>0,05) among the ages (21, 28 and 35 days) and samples recently picked and dry samples. However it was observed significant differences (p <0,05) on humidity content and applied doses of urea. The concentration of 2% of urea was efficient in the three treatments. The concentration of 2,5% of urea, promoted a reduction around 25% in relation to the concentration of 2%, in spite of the difference not reaching statistical significance.
The addition of urea appeared to be effective in reducing mold colonization in hay of batatais-grass, independently of cutting age.
Keywords: Ammoniation, conservation, grass, hay
A fenação como prática de conservação de forragens tem apresentado boa eficiência no suprimento de volumosos para a época seca do ano. Porém a colheita durante o verão pode dificultar o processo de secagem a campo, devido ao risco de perdas pela ocorrência de chuvas. O tratamento com aditivos pode ser uma boa opção para o armazenamento do feno com teores mais altos de umidade. Entre as substâncias disponíveis para a preservação de fenos, a uréia anidra (NH3) tem lugar de destaque em função de sua ação fungistática. Pesquisas têm mostrado a viabilidade do uso da uréia como fonte alternativa de adição de uréia (Rosa e Reis 1995; Reis et al 1997; Rosa et al 1998).
Nas regiões tropicais do Brasil, a produção estacional de forragem é um fato concreto que tem causado enormes prejuízos à pecuária nacional, pois a maioria dos produtores não se prepara para suplementar o rebanho no período de escassez com forragem de boa qualidade (Cândido et al 1999), mediante o exposto, pode-se sugerir, que a fenação seja uma prática que pode garantir o fornecimento de forragem de alta qualidade durante o período de escassez de alimentos provenientes das pastagens (Reis et al 1997).
O tempo requerido para secagem da forragem no campo até atingir o conteúdo de umidade apropriada para armazenagem tem limitado a produção de fenos de boa qualidade, pois, freqüentemente, podem ocorrer chuvas antes que o feno esteja no ponto de cura (13 a 18% de umidade), aumentando assim as perdas e decrescendo a sua qualidade (Rosa et al 1998).
O enfardamento e recolhimento da forragem com conteúdo de umidade superior a 20% reduzem o tempo de cura após o corte no campo e pode diminuir consideravelmente as perdas durante o processamento, contudo, aumentam as perdas no armazenamento, pois a atividade fúngica é a principal causa de deterioração de fenos armazenados nessas condições (Gregory 1963; Lacey 1975; Lacey et al 1981; Hlodversson e Kaspersson 1986).
No momento do armazenamento, o feno contém diversificada população de microrganismos, sendo que o contato com o solo e a contaminação pelos equipamentos mecânicos são importantes fatores que contribuem para a composição desta microflora (Kaspersson et al 1984).
Rosa et al (1998), trabalhando com feno de Brachiaria decumbens, observaram que condições climáticas desfavoráveis durante a secagem no campo podem resultar em elevado crescimento de fungos saprófitas, tais como Fusarium, Alternaria e Cladosporium.
Produtos químicos podem ser usados com a finalidade de reduzir as perdas que ocorrem desde o corte até o armazenamento do feno, considerando que o efetivo tratamento destes pode reduzir o crescimento de microrganismos nos mesmos, diminuindo as perdas no armazenamento e preservando a qualidade destas forragens (Rotz et al 1990). Avaliando os efeitos da amonização sobre a qualidade dos fenos de gramíneas tropicais, Reis et al (1991) relataram que o período de tratamento tem influência acentuada sobre as alterações na composição química dos volumosos tratados.
Pelo exposto, este trabalho tem por objetivo avaliar o efeito da adição de uréia, do período de tratamento e do teor de umidade sobre a concentração de fungos no feno de grama-batatais (Paspalum notatum).
O presente experimento foi conduzido no Setor de Forragicultura e Pastagem do Departamento de Nutrição Animal e Pastagem do Instituto de Zootecnia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, localizado no município de Seropédica, na região da baixada fluminense do estado do Rio de Janeiro, situado a uma latitude de 22045`S, longitude 43041'W, com uma altitude média de 33 metros. O clima da região é do tipo AW, pela classificação de Köppen. A região apresenta duas estações distintas, uma seca, que se estende de abril a setembro e outra quente e chuvosa, que se estende de outubro a março. Levantamentos dos últimos dez anos mostram precipitação média anual de 1281,7mm. As temperaturas médias anuais máximas e mínimas são respectivamente 29,8°C e 20,1°C.
Foram coletadas amostras de grama-batatais após corte por roçadeira nos gramados da UFRRJ. As amostras foram coletadas no dia do corte (alta umidade-25%) e no dia seguinte (baixa umidade -11%). O material foi armazenado em sacos plásticos, seguindo-se a amonização com uréia nas doses de 0 (controle); 0,5; 1,0; 1,5; 2,0; e 2,5% com base na matéria seca. Foram observados três períodos de tratamento (21, 28 e 35 dias). No momento do corte as plantas estavam com 21 dias de crescimento. Após os períodos de tratamento, os sacos foram abertos e retiradas amostras para avaliação da ocorrência de fungos (UFC-Unidades Formadoras de Colônias) pelo método de vazamento em placas (Cruz 1985; Samson et al 1966).
No material com alto teor de umidade a uréia foi distribuída sobre a forragem e misturada para obter uma maior homogeneização e em seguida colocada em sacos plásticos vedados e, no material com baixo teor de umidade a uréia foi diluída em água e depois essa solução foi aspergida sobre a forragem e da mesma forma colocada em sacos vedados. Após a vedação dos sacos, os mesmos foram colocados sob lona preta. Após o término de cada período de tratamento os sacos foram abertos e esperou-se dois dias para que a uréia restante fosse eliminada e depois desse período foi retirada uma amostra de cada parcela e enviada ao Departamento de Microbiologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ para que se avaliasse a ocorrência de fungos, identificação e quantificação dos mesmos.
Os resultados foram analisados em um delineamento em blocos ao acaso, segundo um esquema fatorial 3 (período) x 6 (doses) com 3 (repetições). Para análise dos resultados foi utilizado teste de regressão para a variável doses e períodos de tratamento e teste de Duncan ao nível de 5% de significância para teor de umidade. Foi utilizada uma transformação logarítmica em todos os dados antes de se efetivar as análises estatísticas devida à grandeza numérica.
Não foi observada diferença estatística (p>0,05) entre as idades (21, 28 e 35 dias) e amostras recém colhidas e amostras secas. Mas foi observado diferenças significativas (p<0,05) sobre os teores de umidade e as doses aplicadas.
Como pode ser observado na tabela 1, a partir das doses de 2% de uréia já foi suficiente para inibir o crescimento de fungos, pois o mesmo, não diferiu do tratamento com 2,5% de uréia.
Tabela 1. Efeito de doses de uréia na concentração de fungos, em três períodos de tratamento do feno de batatais (média de três repetições) |
|||
Doses de uréia, % |
Dias de amostragens dos fenos |
||
21 |
28 |
35 |
|
2,5 |
3,45b |
2,99b |
2,39b |
2,0 |
3,98b |
3,57b |
3,03b |
1,5 |
4,22a |
3,62a |
3,81a |
1,0 |
4,34a |
4,13a |
4,25a |
0,5 |
4,46a |
4,28a |
4,36a |
0 |
4,63a |
4,49a |
4,94a |
Médias seguidas de mesma letra, na mesma coluna, não diferem, pelo teste de Ducan, ao nível de 5% de significância |
Para as demais concentrações, houve maior concentração de fungos e não houve diferenças estatísticas. A concentração de 2% foi provavelmente, suficiente para reduzir o valor do pH, sendo responsável pela redução da UFC, no referido tratamento. O que pode ser confirmado por estudos realizados por Henning et al (1990) que observaram que a aplicação de uréia em níveis superiores a 1,2% da matéria seca foi efetiva no controle da população de fungos e leveduras, controle associado à elevação do pH nos fenos tratados.
Conclui-se que independente da idade de colheita da planta com o objetivo de fenar, a concentração de 2% de uréia, inibiu o crescimento de fungos. O que está de acordo com Evangelista et al 2004 que também verificaram que a aplicação de 2% de uréia na matéria seca inibe a indicidência de fungos. Na figura 1 é apresentado o comportamento da ocorrência de fungos de grama batatais em função de doses de uréia, bem como, a devida equação.
Figura 1. Ocorrência de fungos de grama batatais em função de doses de uréia |
Na tabela 2 observa-se que as menores ocorrência de UFC foram verificadas nas doses de 2 e 2,5% de uréia na amostra seca. Tendo as mesmas não apresentando diferenças significativas (p>0,05).
Tabela 2. Efeito de aplicações de uréia na concentração de microrganismos, em função da umidade da amostra (média de três repetições) |
||
Doses de uréia, % |
Amostra recém colhida |
Amostra seca |
2,5 |
3,09a |
2,80b |
2,0 |
3,53a |
3,52b |
1,5 |
4,10a |
3,87a |
1,0 |
4,17a |
4,30a |
0,5 |
4,46a |
4,27a |
0 |
4,57a |
4,46a |
Médias seguidas de mesma letra, na mesma linha, não diferem, pelo teste de Ducan, ao nível de 5% de significância |
Ressalva deve ser feita no sentido que a concentração de 2,5% de uréia, promoveu uma redução em torno de 25% em relação à concentração de 2, apesar de não ter sido verificado diferença estatística. Na prática, seria interessante indicar uma dosagem de 2,5% de uréia para o tratamento do feno de grama batatais, justamente para se ter maior segurança na conservação da mesma.
Thorlacius e Robertson 1984 relataram que o feno de capim Brachiaria tratado com 3% de uréia e enfardado com umidade de 20%, apresentou menor incidência de fungos. Enquanto, Reis et al (1993) avaliando o efeito da aplicação de uréia (0, 1,5 e 3%) em feno de Brachiaria decumbens com 15 e 20% de umidade, observaram uma redução na incidência de fungos, principalmente com a aplicação de 1,5% de uréia, independente a umidade. Nascimento (1994) utilizando feno de grama paulista (Cynodon dactylon) armazenado com alta umidade observou-se a eficiência da uréia anidra no controle do crescimento de fungos, em especial o gênero Aspergillus, durante o período de armazenamento (30 dias).
Em um experimento com feno de alfafa contendo umidade de 13, 30, 40 e 50%, Ghates e Bilanski (1979) testaram os efeitos da aplicação de diferentes quantidades de uréia (0, 1,75, 3,5 e 5,3% da matéria seca) e observaram o aumento no pH (como resultado da hidrólise da uréia e reação com água) e a diminuição na incidência de fungos, após 60 dias de armazenamento nos fenos tratados com 5,3% de uréia. Valor este muito superior ao observado no experimento para reduzir a UFC. Reis et al (1997) e Rosa et al (1998) observaram um controle eficiente de fungos, quando utilizaram a dose de 1,8% de uréia. Valor este próximo ao determinado no presente experimento. Na figura 2 pode-se observar o comportamento da ocorrência de UFC no feno de grama batatais em função de doses de uréia e teor de umidade, bem como as referidas equações, representado pela alta e baixa umidade.
Figura 2. Ocorrência de UFC no feno de grama batatais em função de doses de uréia e teor de umidade |
A adição de uréia é eficiente em reduzir a colonização por fungos em feno de grama batatais, independentemente da idade de corte.
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Received 2 September 2005; Accepted 20 March 2006; Published 15 June 2006