Livestock Research for Rural Development 17 (8) 2005 Guidelines to authors LRRD News

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Composição bromatológica de leguminosas do semi-árido brasileiro

A de Moura Zanine, E Mauro Santos, D de Jesus Ferreira *, J C de Carvalho Almeida*, G de Lima Macedo Júnior**   e   J Silva de Oliveira

Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Viçosa.
Av. Olívia de Castro, 45, apt. 02, Viçosa - MG, 36570000
Anderson.zanine@ibest.com.br
*Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
**Universidade Federal de Minas Gerais

Resumo

O objetivou-se avaliar a composição bromatológica de plantas arbustivas do semi-árido baiano. As plantas utilizadas foram cipó de escada (Bauhinia guianensis), vaqueta (Aspidosperma cuspa Kunth), jurema-preta (Mimosa tenuiflora Wild) e o pau rato (Caesalpinia pyramidalis). Foram coletadas amostras em três florestas do município de Bom Jesus da Lapa, no estado da Bahia, uma amostra composta em cada floresta. Determinaram-se os teores de matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro, fibra em detergente ácido, nitrogênio indigerível em detergente neutro e nitrogênio indigerível em detergente ácido.

Proteína bruta variou entre 13 e 21% na MS, com maiores valores para o cipó de escada e pau rato. O conteúdo de matéria seca foi alto (37 a 89% na MS), bem como o de FDN (48 a 65% na MS). O conteúdo de NIDIN variou de 21 a 30% do N total e NIDA variou de 8 a 18% do N total, com menores valores para o pau rato.

Palavras-chave: Aspidosperma spits, Bauhinia guianensis, Caesalpinia pyramidalis, cipó de escada, jurema preta, Mimosa tenuiflora, pau rato.



Chemical composition of legumes from Brazilian semi-arid region

Abstract

The objective of this experiment was to determine some nutritional parameters of selected tree legumes from Brazilian semi-arid regions. The selected plants were: cipó de escada (Bauhinia guianensis), vaqueta (Aspidosperma spits Kunth), jurema preta (Mimosa tenuiflora Wild) and pau rato (Caesalpinia pyramidalis). Samples were collected in three forests of Bom Jesus da Lapa, in Bahia state. A bulked sample from each forest was analysed for dry matter, crude protein, neutral detergent fiber, acid detergent fiber, indigestible acid detergent nitrogen and indigestible neutral detergent nitrogen.

Crude protein content ranged from 13 to 21% in DM with highest values for cipó de escada and pau rato. The DM contents were high (37 to 89%) as were NDF values (48 to 65% in DM). NIDIN content ranged from 21 to 30% and NIDA ranged from 8 to 18% in N total, with lowest values for pau rato.

Keywords: Aspidosperma spits, Bauhinia guianensis, Caesalpinia pyramidalis, composition, cipó de escada, jurema preta, legumes, Mimosa tenuiflora, pau rato, semi-arid


Introdução

O nordeste brasileiro tem por característica ser um ecossistema não equilibrado, por isso apresenta escassez de forragem, em quantidade e qualidade nas épocas secas, isto sendo um forte limitante da produtividade dos rebanhos daquela região. Em regiões semi-áridas, onde a condição de estação seca anual, as secas totais e a instabilidade ocorrem periodicamente, além da exploração indiscriminada dos recursos forrageiros nativos e/ou introduzidos são fatores agravantes e responsáveis pelo baixo desempenho dos rebanhos caprinos, ovinos e bovinos.

A vegetação nativa é rica em espécies forrageiras em seus três estratos: arbóreo, arbustivo e herbáceo. Estudos revelam que mais de 70% das espécies botânicas da Caatinga participam significativamente da dieta dos ruminantes domésticos (Peter 1992). As leguminosas arbóreas e arbustivas têm se destacado em nível mundial como uma fonte econômica de proteína para a produção animal. No semi-árido nordestino tem-se destacado o uso de leguminosas em cultivo isolado como forma de reduzir a escassez de forragem nas épocas secas do ano (Sousa e Espíndola 2000).

O uso de leguminosas como fonte de nutrientes durante a estação seca tem resultado em aumentos de produção animal, estimulando sua utilização, principalmente, as espécies perenes e nativas (Araújo Filho et al 1998). As espécies cipó de escada (Bauhinia guianensis), jurema (Mimosa tenuiflora Wild), pau rato (Caesalpinia pyramidalis) e vaqueta (Aspidosperma cuspa Kunth), por serem totalmente adaptadas ao semi-árido, podem ser promissoras, devido ao seu rápido crescimento e elevado valor protéico como forrageira.

Nos últimos anos, tem-se pesquisado muitas leguminosas do nordeste, conhecendo-se seu potencial, no entanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar o valor nutricional de algumas espécies de leguminosas que pouco estudadas, por meio da avaliação dos constituintes bromatológicos das mesmas.


Material e métodos

O experimento foi realizado no município de Bom Jesus da Lapa, localizado no estado da Bahia, no nordeste brasileiro, latitude de 13º 15' 18'' Sul, longitude 43º 25' 05'' Oeste, período chuvoso é de outubro a fevereiro com precipitação média, nos últimos cinco anos, de 700mm. . Avaliou-se a composição bromatológica das leguminosas arbustivas cipó de escada (Bauhinia guianensis), jurema preta (Mimosa tenuiflora Wild), pau rato (Caesalpinia pyramidalis) e vaqueta (Aspidosperma cuspa Kunth) (Figura 1). As plantas foram coletadas em três localidades diferentes, manualmente, quando as mesmas se encontravam em vegetação plena (verão). (A finalidade deste manejo é aproveitar o excedente de biomassa, na época em que é elevado o valor nutritivo, para ser administrada na forma de feno; além disto, o corte destas espécies favorece o desenvolvimento do estrato herbáceo que é alcançado pelos animais; as plantas do estrato superior estão fora do alcance de pastejo, devendo ser colhidas no verão e armazenadas, racionalizando o manejo de utilização destas espécies , onde foi efetuada uma amostragem composta; de cada amostra composta foram retiradas amostras simples para as avaliações. Foram colhidas amostras das folhas de cada planta.

Figura 1. Pau rato (Caesalpinia pyramidalis) (A), vaqueta (Aspidosperma cuspa Kunth) (B),
jurema preta (Mimosa tenuiflora Wild) (C) e cipó de escada (Bauhinia guianensis) (D).


Os parâmetros avaliados foram o teor de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), nitrogênio indigerível em detergente neutro (NIDIN) e nitrogênio indigerível em detergente ácido (NIDA). O teor de MS foi determinado em estufa de 65 ºC até o peso constante e, após, levou-se a uma estufa a 105 ºC para se obter o teor de matéria seca definitiva. O valor de PB, NIDIN e NIDA, foi determinado pelo método de Kjeldahl. Os teores de FDN e FDA foram determinadas pelo método de Van Soest (1994).

Os dados foram submetidos à análise de variância e os valores médios dos constituintes bromatológicos das leguminosas foram comparados pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, utilizando-se o programa SAEG versão 8.0 (Universidade Federal de Viçosa-UFV 1999).


Resultados e discussão

Na Tabela 1, pode-se observar que houve diferenças estatísticas (p>0,05) nas quatro leguminosas estudadas para os teores de MS, PB, FDN, FDA e NIDIN, não sendo observadas diferenças para os valores de NIDA. O maior valor de MS foi verificado para a jurema preta, que perdeu apenas 11% de água após a secagem. A leguminosa vaqueta apresentou valor de matéria seca em torno de 50% e as outras não apresentaram diferenças entre si. Vasconcelos et al (1997) encontraram valor de matéria seca de 90% para a jurema preta, concordando com os dados do presente trabalho.

Tabela 1. Teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), nitrogênio indigerível em detergente neutro (NIDIN), nitrogênio indigerível em detergente neutro (NIDIN) e nitrogênio indigerível em detergente ácido (NIDA) de quatro leguminosas

Leguminosa

MS, %

PB, % MS

FDN, % MS

FDA, % MS

NIDIN, % N total

NIDA, % N total

Cipó de escada

48,7bc

21,1a

64,7a

43,1a

30,9ª

12,6b

Vaqueta

54,0b

13,0b

48,5b

38,2ab

28,9ab

18,8a

Jurema

89,0a

14,5b

51,9b

33,9b

26,2b

16,5ab

Pau rato

37,0c

19,7a

52,6b

37,6b

21,9

8,1

CV (%)

8,9

7,7

5,2

5,3

15,1

38,4

Médias seguidas de mesma letra na coluna não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade

Quanto ao teor de PB as leguminosas que se destacaram foram o cipó de escada e o pau rato com teor de proteína de 21,1 e 19,7, respectivamente. Enquanto, a vaqueta e a jurema apresentaram valores de 13,0 14,5, respectivamente. Cortes et al (2004Missing) avaliando sete acessos da leguminosa leucena, a mais utilizada como banco de proteína (Leucena lecocephala) na região nordeste do Brasil, observaram um valor médio de PB de 19,1%, ficando próximo aos valores de PB do cipó de escada e do pau rato. Isto sugere que leguminosas de ocorrência natural poderiam ser avaliadas como fontes de proteína para animais, em vez de uma outra exótica, como é o caso da leucena.

Os resultados de Batista et al (1998), que verificaram valor de proteína bruta de 19,1% para o cipó de escada, corroboram os resultados do presente trabalho. Pereira Filho et al (1999), trabalhando com a jurema preta, observaram um valor de PB semelhante ao do presente experimento. Em geral, todas as plantas estudadas apresentaram-se com elevado valor protéico.

Quanto ao valor de FDN, o cipó de escada obteve o maior valor (64,7%), sendo que o restante das plantas não apresentou diferenças estatísticas, ficando com valores em torno de 50%. Para o valor de FDA manteve-se o mesmo comportamento, o cipó de escada obteve maior valor, não diferenciando da vaqueta, e a jurema e o pau rato apresentaram os menores valores. Pereira Filho et al (2003), avaliando a leguminosa jurema preta observaram que essa forrageira apresentou valores de MS, PB, FDN e FDA na ordem de 91,2; 14,4; 44,5 e 29,5%, respectivamente. Os valores de FDN e FDA, foram mais baixos que os encontrados no presente experimento, fato que se deve ao tratamento com hidróxido de sódio promovido naquele experimento.

Avaliando o cipó de escada, Batista et al (1998), encontraram valores de FDN e FDA da ordem de 46,6 e 31,5% respectivamente, valores abaixo do observado no presente experimento. Esta diferença pode ter sido devido à época de amostragem, pois no presente experimento, as amostras foram coletadas mais tardiamente. Em geral, com exceção do cipó de escada, as leguminosas apresentam um baixo conteúdo de FDN, sendo esta uma característica desejável.

Com relação aos teores de NIDIN, o maior valor foi observado para o cipó de escada, apesar do seu elevado valor protéico, e o menor valor foi obsevado para o pau rato. Não obstante, os valores de NIDIN estão próximos dos encontrados por Vasconcelos et al (1997) para as leguminosas catingueira, sabiá, jurema preta e leucena. Com relação ao NIDA, o pau rato apresentou o menor valor, assim como observado para o NIDIN, e o maior valor foi observado para a vaqueta Em geral, as leguminosas apresentam altos valores de NIDIN e NIDA, todavia o fato de sua ocorrência natural e em abundância, não descarta a possibilidade de utilização destas na alimentação animal..


Conclusões

As leguminosas estudadas mostraram-se promissoras para alimentação animal, com destaque para o pau rato que teve alto valor de proteína bruta e menores valores de fibra em detergente neutro, nitrogênio indigerível em detergente neutro e nitrogênio indigerível em detergente ácido. Como estas plantas são pouco estudadas, análises de fatores antinutricionais, como compostos fenólicos, principalmente taninos, devem ser futuramente realizadas.


Referências bibliográficas

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Batista J S,  Arruda F A V, Carvalho F C, Azevedo A R e Alves A A 1998 Composição químico-bromatológica do feno de cipó de escada (Bauhinia glabra) em cinco períodos de corte. In: XXXV Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia. Anais... Universidade Estadual Paulista. Botucatu. p. 669-671.

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Souza A A e Espíndola G B 2000 Bancos de proteína de leucena e guandu para suplementação de ovinos em pastagem de capim-bufel. In: XXXVII Reunião Anual da Sociedade Brasileira de zootecnia. Anais...Universidade Federal de Viçosa. Viçosa. (CD ROM).

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Van Soest P J 1994 Nuritional ecology of the ruminant. 2a Edition Cornell University Press, 476 p.

Vasconcelos V R,  Resende K T e Pimentel J C M 1997 Caracterização química de forrageiras do semi-árido brasileiro e suas correlações com alguns parâmetros de degradação. In: XXXIV Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Anais... Juiz de Fora. p.58-59.


Received 1 June 2005; Accepted 5 July 2005; Published 1 August 2005

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